O reconhecimento tornou-se público na Primeira Reunião Nacional sobre Fístulas Obstétricas que decorreu nos dias 8 e 9 de Julho do ano em curso na sala de reuniões do Ministério da Saúde sob o lema “Rastreando Fistulas – Transformando Vidas”, onde o Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (FORCOM) foi uma das organizações convidada a partilhar suas acções no concernente a eliminação desta enfermidade que assola as raparigas e as mulheres moçambicanas.
A fístula obstétrica é uma doença que, consiste na comunicação anómala entre a vagina, bexiga e o recto como resultado da pressão da cabeça do feto, numa circunstância de trabalho de parto arrastado.
Em representação do FORCOM, Lara Francisco , Assistente de Género nesta instituição falou das acções que foram levadas a cabo como forma de luta para redução da doença destacando as formações aos jornalistas e dos programas radiofónicos que estão sendo levados a cabo por 10 Rádios Comunitárias, membros do FORCOM. “Em parceria com a WLSA Moçambique formamos 17 jornalistas comunitários das regiões Centro e Norte do país em matérias relacionadas com a Violência Baseada em Género (VBG), Direitos Sexuais e Reprodutivos (DSR) com enfoque para Casamentos Prematuros (C.P), Aborto Inseguro (A.I) e Fístulas Obstétricas (F.O) ”.
Vanessa acrescentou ainda que, como resultados destas formações, foram produzidos 20 programas em diversas rádios membros do FORCOM onde Através destes programas foram identificados casos de fístulas sendo que no distrito de Macequece, província de Manica, as Rádios Comunitárias e o FORCOM não só disseminaram a informação, como também, contribuíram com valores monetários para cobrir os custos de transporte das pacientes para levá-las ao tratamento”.
Para este trabalho, o FORCOM conta com o apoio financeiro da Íbis no âmbito do programa do AGIR na componente do Acesso a Informação.
“Em Gurué comunicamos pela Rádio Comunitária que iríamos operar uma mulher com fístulas no dia seguinte apareceram 120 mulheres com fístulas”, Dr. Marquizini.
Médicos obstetras a nível nacional teceram alguns comentários e fizeram testemunhos de reconhecimento sobre o contributo das Rádios Comunitárias na arena das fístulas obstétricas. Estes profissionais da saúde afirmaram, de forma unânime, que as rádios desempenham um papel fundamental para as comunidades, incentivam as pessoas para irem as Unidades Sanitárias e facilitam o processo de reintegração social das mulheres com fístulas.
“Realmente, a comunicação é extremamente importante nas comunidades e, as Rádios Comunitárias jogam um papel muito importante informando sobre aspectos importantes na prevenção e combate da fístula. Muitas vezes, por causa da distância, as mulheres sofrem com a fístula sem saber o que fazer. Mas, através das Rádios Comunitárias, elas ficam informadas das campanhas para o tratamento. Assim, as mulheres com fístulas aderem ao tratamento em massa. E não há melhor coisa que tratar uma pessoa perto da casa dela e da família do que deslocar as pacientes para as Unidades Sanitárias distantes das suas residências” afirmou o Dr. Luís Mendes, cirurgião do Hospital Central do Niassa.
“Tenho uma experiência do impacto da Rádio Comunitária. Há um mês, fui fazer uma sessão de fístulas em Mutarara e quando chegamos lá, por um período de sete dias já havia cerca de cinco pacientes a espera do tratamento. Operamos a primeira paciente e chamamos o jornalista da Rádio Comunitária para entrevistar aquela senhora que antes da operação andava toda molhada de urina mas depois ela quase que não acreditava que já estava curada e que em 24 horas já estava limpa. Daí que falando do fenómeno na língua local para a rádio, outras mulheres ficaram a saber do tratamento e também aderiram em massa e outras tiveram que ser transferidas para o hospital provincial. Isto para dizer que as Rádios Comunitárias são de extrema importância para as campanhas e podemos usá-las como segunda arma para o fim da fístula” disse o Dr. Gomes Ziaveia Cirurgião do Hospital central de Tete.
“Uma vez em Gurué comunicamos a Rádio Comunitária que iríamos operar uma mulher com fístula e através de informações veiculadas naquela Rádio para comunidade, no dia seguinte 120 mulheres apareceram com fístulas”, Dr. Marquizini
Segundo dados do Ministério da Saúde (MISAU), foram realizados em 2013 aproximadamente um milhão de partos, dos quais mais de duas mil mulheres saíram com fístulas. Deste grupo, apenas 357 mulheres foram tratadas e o risco de mulheres desenvolverem a fístula obstétrica até 2015 está prevista para aproximadamente 2.300 casos.