Chamo-me Caridade Alberto Chivambo, tenho 23 anos e moro no bairro “A” Distrito de Chiculacuala. Com 14 anos fiquei gravida do meu primeiro filho. Tive o bebé a viver com os meus pais e não cheguei de ir ao lar. Com 16 anos voltei a engravidar do mesmo homem que era cinco (05) anos mais velho que eu. Daí, as minhas tias e os meus pais levaram-me para viver na casa dele.
Estava na sétima Classe Quando mandaram-me para o lar e tive que forçosamente deixar a escola porque a casa do meu namorado era distante da escola e os trabalhos domésticos chamavam por mim.
Depois de quatro meses o meu marido começou a maltratar-me, os familiares inventaram que eu tinha remédio tradicional para matar a ele e, por isso, em tão pouco tempo mandaram-me embora do lar.
Quando voltei á casa sentí-me desesperada com um filho no colo e gravida, sem trabalho nem escola, aí aparececeu-me um homem da suazilândia (aquí perto), que prometeu cuidar de mim e dos meu filhos, Aceitei o segundo marido e sem receio atravessei a fronteira para um outro lar. Quando lá chegamos, descobri que era a terceira esposa e como reza a tradição eu é que fazia os trabalhos mais pesados, desde a machamba até a cozinha.
Depois de algum tempo passei a reclamar dos trabalhos pesados que eu fazia sozinha as outras sentadas e daí em diante passou a bater em mim, ele batia-me de forma muito violenta, sofrí muito (Disse com lágrimas no rosto). A ultima vez que espancou-me por pouco furava-me o olho e por isso fugí para casa nos finais de 2015. Quando cheguei a casa deparei-me com um outro tipo de sofrimento, o da pobreza absoluta, o meu pai em tão pouco tempo perdeu a vida e a minha mãe ficou doente de (A.V.C), Hoje eu sou pai e mãe dos meus filhos.
Pouco tempo depois do meu regresso do segundo lar, fui ouvindo a Rádio Comunitária de Chicualacuala que dentre vários programas educativos, falava dos Casamentos Prematuros e da importancia da educação para o desenvolvimento da Rapariga. Graças ao programa “casamento Só mais tarde”, recebí apoio moral da Rádio para voltar á escola. Não foi possível ter aulas presenciais porque o ano lectivo já tinha iniciado mas a Rádio deu-me orientações de como proceder para que não perdesse o ano. Graças a Rádio Chicualacuala conseguí me inscrever para o exame extraordinário da 7a classe e conseguí passar para a 8ª classe e se tudo der certo em 2017 irei frequenter a 8a classe.
Caridade é hoje uma mulher batalhadora que depois de sair do Casamento Prematuro, tem dado o seu máximo para recuperar o tempo perdido. Trabalha numa barraca e com o que ganha procura garantir a educação dos seus filhos e cuidar da sua Mãe doente. Está aos poucos a construir uma casa para garantir o mínimo de conforto à sua família que encontra-se neste momento a viver numa casa em condições precárias tal como ilustra a imagem. Tem o sonho de um dia fazer Rádio para ensinar as outras meninas a prevenir-se dos Casamentos Premturos e das Gravidezes Indesejadas.