Quem o diz é Melito Catana jovem jornalista da Radio Comunitária Cuamba na província do Niassa que, aos 32 anos de idade, é um verdadeiro exemplo de auto superação pois apesar de ser uma pessoa com deficiência física, faz radio há 13 anos e é referência a nível destes distrito na apresentação de programas nas línguas Emakhua, Cinhanja e Ciyao, além do Português.

Melito Catana colaborador da Rádio Cuamba há 12 anos, nasceu com paraplegia, caracterizada pela perda total das funções motoras dos membros inferiores, pelo que não se pode locomover sem ajuda de uma cadeira de roda. Facto que o impede de aceder a maior parte dos locais públicos, mas nem por isso deixou-se levar pelo complexo de inferioridade e pelo olhar discriminatório da sociedade. Levantou a cabeça, impôs-se a todos os obstáculos e conquistou um espaço inquestionável na Rádio Comunitária de Cuamba. Na entrevista que se segue, Melito Catana, adiante designado por MC conta a sua história de vida, desabafa e projecta novas conquistas:

 FORCOM: Melito, quando é que começa a interessar -se pela rádio e em particular a colaborar com a Rádio Comunitária de Cuamba?

Melito Catana (MC): Comecei em 2001 e nessa altura entrei como voluntário na Rádio Comunitária de Cuamba e em seguida fui convidado a participar de uma formação de Jornalistas e produtores de programas radiofónicos a convite desta rádio. Dai passei a produzir programas nas línguas Emakhua, Cinhanja e Ciyao e Português.

FORCOM: Houve alguma razão especial para apostar na área radiofónica?

MC: Sim. Eu entrei no mundo da rádio por paixão e também porque queria provar as outras pessoas com deficiência que, apesar de algumas limitações, também somos capazes de fazer algo e temos direitos e oportunidades iguais como qualquer ser Humano.

FORCOM: Quando decidiu fazer rádio, como é que as pessoas reagiram?

MC: No início foi difícil. As pessoas olharam para a minha deficiência física e pensaram que não seria capaz de fazer rádio. Mas depois reagiram bem. Hoje a percepção deles é outra e acho que as pessoas perceberam que, apesar de vivermos com deficiência, nós também podemos fazer coisas interessantes desde que estejam ao nosso alcance.

FORCOM: Como é que foi o seu primeiro dia de estúdio?

MC: Bom… meu sonho foi sempre fazer rádio. No primeiro dia tive dificuldades no distanciamento com o microfone. Tremi e mostrei-me inseguro mas, nos dias seguintes acabei-me acostumando e agora posso até formar os outros colegas.

FORCOM: Numa das visitas feita pela equipa do FORCOM ao distrito foi possível ouvir comentários das comunidades apreciando o seu trabalho e destacando a sua voz como a melhor que se pode ouvir localmente. Que comentário faz em relação a estes dois aspectos?

MC: Quanto ao meu trabalho torna-se difícil para mim elogiar pois diz respeito a minha pessoa. Mas posso referir que as pessoas quando ando pelas artérias do distrito reconhecem o meu trabalho e até sugerem temas para eu abordar nos programas. Relativamente a minha voz, dizem que parece de jornalistas da Radio RDP África entre outros meios de comunicação onde tem locutores com vozes impressionantes.

FORCOM: Sente-se inferiorizado por viver com deficiência?

MC: Não, (breve silêncio) agora não. Sou respeitado como qualquer outra pessoa. Acho que, por vezes, algumas pessoas com deficiência é que se auto descriminam. Acho que apesar de vivermos com deficiência, devemos correr atrás dos nossos sonhos. Temos que ser nós mesmos a demonstrar coragem e determinação para vencermos na vida.

FORCOM: Qual é o seu principal desafio no trabalho com a Rádio?

MC: Continuar a estudar e me profissionalizar como Jornalista. Actualmente tenho o nível Médio-Geral e quero me tornar um grande comunicador reconhecido á nível Nacional.

FORCOM: O que tem feito, em Rádio, para ajudar as pessoas com deficiência?

MC: Não temos um programa específico mas, sempre que posso, nas minhas emissões transmito mensagens de encorajamento `as pessoas com deficiência. Estimulo-as a não se sentirem inferiores e dou o meu exemplo como algo a seguir. FORCOM: E essas mensagens têm sido bem acolhidas?

MC: Posso até não ver ou ter o retorno das pessoas, mas sinto que estou a fazer a minha parte.

FORCOM: Que mensagem gostaria de deixar para os nossos leitores?

MC: Que as pessoas respeitem a quem vive com deficiência, principalmente as crianças. Afinal somos todos iguais. Para as pessoas com deficiência, o meu apelo é que se esforcem e lutem pelos seus sonhos que, a qualquer momento, poderão ser realizados, independentemente da sua condição física.